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Um livro sobre o desperdício da própria existência. Escrito há dois mil anos para ser entendido agora.

Com data de escrita normalmente situada no ano 49, Sobre a Brevidade da Vida, do filósofo romano Séneca, versa sobre a natureza do tempo, sobre a forma como é desaproveitado com pensamentos e tarefas que se afastam de princípios éticos de verdadeiro significado.

Ainda que anotado no dealbar da era cristã, este tratado reinventa a sua própria atualidade e parece aplicável com clareza aos tempos de hoje, vividos numa pressa informativa, no contacto exagerado, tantas vezes a respeito de nada que importe, proporcionado pelas redes sociais.

Sobre a Brevidade da Vida está longe de ser um livro dentro dos conceitos atuais de autoajuda. É, talvez bem pelo contrário, um texto duro, arrojado, incomodativo, como que escrito por um amigo que nos diz o que não queremos ouvir, por o saber necessário.

Chegar ao fim do nosso tempo e senti-lo desperdiçado, eis a grande tragédia, segundo Séneca.

Séneca (4 a. C-65) foi um filósofo do Império Romano, nascido em Córdoba (na atual Espanha) e falecido em Roma. Seguidor, e depois grande influenciador, das correntes filosóficas estoicas, assentes na importância do exemplo comportamental e da sintonia com as regras impostas pela natureza, Séneca entendia, no limite de um resumo, que o único sentido da vida era vivê-la, pois só dessa forma o homem poderia conhecer-se a si próprio e ao mundo. Uma espécie de indiferença ao resto, portanto, que muitos consideravam (e consideram) impraticável, mas que para Séneca, e respetiva corrente de pensamento, era a única vida compreensível.