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Categorias: Livros, História/Biografias
«Gostava de escrever uma prece bonita.»
Esta frase foi escrita por Flannery O’Connor durante a sua juventude, neste diário profundamente espiritual, recentemente descoberto entre os objetos que deixou na Georgia.
«Há em volta de mim um vasto mundo sensível que eu deveria ser capaz de usar como instrumento em Teu louvor.»
Escrito entre 1946 e 1947, enquanto O’Connor estudava longe de casa na Universidade de Iowa, Um Diário de Preces é um portal raro de acesso à vida íntima da escritora. Não apenas revela a relação singular de O’Connor com o divino, como nos mostra a forte ligação entre o seu desejo de escrita e o seu enternecimento por Deus.
«Tenho de escrever que irei tornar-me artista. Não no sentido da fancaria estética, mas no sentido do engenho estético: caso contrário, sentirei a minha solidão constantemente […]. Não quero sentir-me solitária toda a vida, mas as pessoas, ao recordarem-nos de Deus, apenas acentuam a nossa solidão. Meu bom Deus, por favor, ajuda-me a tornar-me uma artista, por favor, faz que isso me aproxime de Ti.»
O’Connor não podia ser mais explícita em relação à sua ambição literária: «Por favor, ajuda-me, meu bom Deus, a ser uma boa escritora e a conseguir que me aceitem mais textos para publicação», escreveu.
Segundo W. A. Sessions, que conhecia O’Connor, não foi uma coincidência que a autora tenha começado a escrever as histórias que formaram o seu primeiro romance, Sangue Sábio, durante os anos em que escreveu estas meditações singulares e profundamente imaginativas.
Aos doze anos, quando foi diagnosticada lúpus (uma doença hereditária) ao seu pai, mudou-se para Milledgeville, onde a mãe nascera, também na Georgia. O pai viria a morrer três anos mais tarde.
Flannery O'Connor licenciou-se em Inglês e Sociologia e, em 1946, foi aceite a sua candidatura ao Iowa Writers' Workshop. Logo nesse ano, publicou a sua primeira história, The Geranium. Mais tarde viria a reescrever esta história e a intitulá-la Judgement Day. Seria o seu último escrito conhecido. Em 1947, publicou o primeiro dos seus dois únicos romances, Wise Blood, com o qual ganhou o Rinehart-Iowa Fiction Award. Dois anos depois, aceitou o convite do tradutor de grego e poeta Robert Fitzgerald para ir morar com ele e com a mulher em Redding, no estado do Connecticut. No entanto, passado um ano foi diagnosticada lúpus a Flannery O'Connor e deram-lhe uma esperança de vida de cinco anos (acabou por viver cerca de quinze). Resolveu regressar a Milledgville, para a sua quinta de Andalusia.
Foi o seu período mais criativo e, em 1955, ela própria fez uma recolha do seus contos e publicou A Good Man Is Hard to Find and Other Stories (Um Bom Homem É Difícil de Encontrar). Em 1960, lançou o seu segundo romance, The Violent Bear It Away (O Mundo É dos Violentos). Passados cinco anos saiu, a título póstumo, nova coletânea de contos, Everything That Rises Must Converge, que ainda foi compilada pela autora.
Paralelamente à atividade de escritora, Flannery O'Connor dedicou-se também, na sua quinta em Andalusia, à criação de aves, nomeadamente pavões, e à pintura.
Quando morreu aos 39 anos, a 3 de agosto de 1964, Flannery O'Connor tinha produzido 32 contos e dois romances.
Posteriormente à sua morte, foi criado o Prémio de Conto Flannery O'Connor, que é atribuído anualmente nos Estados Unidos da América.